domingo, 5 de agosto de 2007

O Leito sem Rio




Era um casal de namorados daqueles que se conheceram desde a infância. Estudaram juntos nas mesmas escolas, naturalmente sendo ótimos amigos, e na adolescência se apaixonaram. Entretanto nem tudo foram flores e com eles a vida foi realmente cruel.
As coisas ficaram sérias quando estavam na faculdade. Os dois estudaram juntos na mesma universidade: enquanto ele, Heitor, fazia jornalismo, ela, Ester cursava artes plásticas. Foi durante essa época que eles ficaram noivos.
O tempo passou e após se formarem Heitor arranjou um bom emprego num jornal por indicação de um amigo seu e Ester estava com planos de montar seu próprio ateliê. Tudo corria bem.
Um dia Heitor voltou do trabalho cansado, mas satisfeito, tanto que ainda teve disposição de ir até a casa de Ester e convidá-la para sair. Não era um dia especial aquele, mas apenas uma sexta-feira comum que, no entanto, acabou por se tornar um dia memorável quando ela lhe confessou estar grávida dele.
Um mês depois os dois estavam casados e felizes, pois apesar de terem adiado o casamento para tentarem primeiro estabilizar suas vidas, já pensavam nisso desde o inicio do namoro.
Foram passar a lua-de-mel numa cidade de praia, distante da agitação da cidade grande onde moravam e foi lá que tudo aconteceu. Não exatamente na cidade, mas a quinze quilômetros de sua entrada. Foi onde o carro de Heitor capotou e aconteceu o acidente que mudou suas vidas.
No hospital disseram que Heitor apenas havia sofrido escoriações leves, mas sua mulher estava em coma, entretanto o bebê que ela carregava ainda vivia e a gravidez pode transcorrer de forma normal.
Longos meses se passaram e o filho deles nasceu, sem, no entanto, Ester ter acordado. Heitor sempre ia ao hospital quando saia do trabalho e ficava lá cuidando dela, esperançoso de que um dia ela pudesse levantar daquela cama.
Depois de mais um ano de esperas em vão, decidiu pensar num nome para o filho, pois o mesmo não poderia ficar sem nome e o deu como um presente de aniversário. Lucas foi como o registrou.
Muitos anos se foram até que Heitor perdeu de vez as esperanças e resolveu se casar novamente, dessa vez com Joana, uma das enfermeiras que cuidava de Ester. Isso aconteceu no mesmo ano em que Lucas se formou em medicina.
Após casarem-se eles mudaram para outra cidade decidindo deixar o passado para trás, mas Lucas ficou, pois crescera obcecado com a idéia de um dia poder trazer sua mãe de volta e com isso deu muitas contribuições à evolução da medicina.
Em 30 anos de pesquisa, no entanto, nada havia funcionado e Ester, agora uma senhora idosa, continuava imersa em seu longo sono.
A vida estava passando para Lucas e ele somente pensava no seu único objetivo, sem plano sobre casar-se e sem cuidar muito de sua vida pessoal. Investia todo o seu tempo e dinheiro nas pesquisas com sua mãe.
Numa noite estava se sentindo amargurado por conta dos problemas e frustrações da vida, então resolveu passar a noite no hospital ao lado de sua mãe, o que costumava fazer quando estava com algum problema sério. Conversou com ela que, é claro, não respondeu, mas ele imaginava que ela talvez pudesse ouvi-lo. Acabou adormecendo por estar exausto de muitas coisas.
Dormiu muito profundamente aquela noite e sonhou que sua mãe, jovem como era quando ele nascera, brincava com ele criança nos jardins da casa de seu pai. No sonho ela o abraçou e disse-lhe que já estava crescido e que deveria viver sua própria vida. Sorrindo, ela lhe pediu pra que a deixasse ir e ele, com muito esforço, conseguiu soltá-la. Ela então caminhou para longe e sumiu de sua vista. Acordou muito triste e não conseguiu dormir pelo resto da noite olhando para Ester e pensando em tudo aquilo. Foi quando os primeiros raios de sol foram surgindo que respirou fundo e decidiu dizer adeus a sua mãe. Então Lucas simplesmente desligou os aparelhos e foi embora pra casa.

Ass.: Márcio Beckman.

7 comentários:

António Melenas disse...

Pois é, há sempre um tempo de começar, não é?
Tens imaginação e sabes contar uma história, além de outros talentos que espero vir a descobrir em futuras visitas.
Abraço

ana wagner disse...

De volta rs Obrigada pelos comentários elogiosos. Aprecio a tua prosa, uma arte que não domino de jeito nenhum :( Teu blog é daqueles que a gente não cansa de visitar.
Obrigada por add meu link. bjs

Anônimo disse...

Bacana!...Talento é uma coisa q devemos compartilhar.
Assim... quem tem contribui e acrescenta aos outros algo q só se faz presente na reflexão de um dia após o outro... e infinitamente outros mais.
Beijos

Claudia Pinelli® disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Claudia Pinelli® disse...

Parabéns, Márcio!!!
Maravilhosa essa sua prosa..
Adorei.
Bjo gde.

Bichodeconta disse...

Se começamos assim na arte de escrever um conto, então amigo o caso é muito sério porque o que se segue será certamente mais e melhor.Parabéns. Um abraço, Ell

*Um Momento* disse...

Adorei
Em visita a este teu espaço, deparei-me eu também com uma imagem escolhida por mim para uma minha postagem
Espaço lindo este:))
Parabéns
Deixo um Sorriso
(*)